quarta-feira, 13 de abril de 2011

Conto#3:Ao amanhecer


Conheço muita gente que já tombou. Conheço tantas outras que ao cair percebeu que está no chão pode ser uma condição passageira e que permanecer é uma decisão inteiramente pessoal. Eu decidir me levantar.
Quando Laura me deixou tive a impressão que o mundo iria acabar. As noites ficaram longas. Os dias pareciam intermináveis. Fiquei tão estranho que quase não me reconhecia ao espelho. O trabalho perdeu o sentido.
Fiquei contando os dias acreditando que a qualquer momento ela iria retornar sorrindo, dizendo que foi um instante de loucura, que não poderia viver sem mim, etc e tal... Mas após quase seis meses sem noticias percebi que seu retorno era uma esperança remota.
Aquela mulher partiu de casa numa maldita Segunda-Feira deixando apenas duas linhas de explicações: “Não dá mais. Sinto-me acorrentada. Preciso de liberdade. Por favor, entenda. Adeus.” E ainda me pediu para que eu a entendesse.
O que a tornava uma prisioneira? Eram os meus carinhos?Realmente não foi fácil. Não era como trocar o canal da TV usando um controle remoto. Entendi que para continuar vivendo tornou-se necessário trocar a TV.
Durante muito tempo algumas interrogações me torturaram. Sentia-me um fracassado. Alguém incapaz.
Resolvi, então, deixá-la ir. Abrir a porta, recolher as fotos, os vestidos, lembranças, jóias... Todos os seus pertences e dizê-la também “adeus”. 
E numa manhã de Sábado, na alvorada do descobrimento pessoal, percebi que precisava nos libertar. Ela, do meu amor. E eu, de sua imagem indiferente e friamente egoísta.
Assim fazendo, neste tombo, não era eu quem permaneceria no chão.


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