domingo, 1 de maio de 2011

Sepulcro de pedras

Cruzei, numa destas noites, vindo da faculdade, com uma árvore morta, tombada no meio de uma praça em frente a três escolas daqui de Mossoró. O tronco robusto, enorme, cerrado, denunciava que sua vida fora longa e que o homem ou qualquer outro evento resolveu ceifá-la.

As praças geralmente são palcos de muitos acontecimentos. Já presenciei vários: Espetáculos artísticos, comícios políticos, protestos estudantis, encontros amorosos, etc. Mas uma das inúmeras praças da cidade, mais precisamente a Praça Dom João Costa, havia se tornado o sepulcro de uma velha árvore.

Quando vi o corpo abandonado, esquecido e seus membros naturais como galhos e folhas amputados uma pergunta, subitamente, me sobreveio: Onde estaria a alma daquela espécime tão emblemática em nosso século perturbado e confuso?

Fiquei imaginando como seria o mundo imaterial das plantas. Haveria dor e sofrimento quando qualquer uma delas deixava de sentir os doces raios do sol? Se a cada queda sem vida de uma árvore houvesse uma última palavra, o que ouviríamos em seu clamor?

Eu, no momento em que passava de ônibus, não conseguir enxergar ninguém lamentando a perda. O local estava escuro e vazio. Nenhum vivente. Somente a morte com sua lâmina afiada.

No outro dia não encontrei, em nenhum jornal, notas de seu falecimento. A indiferença desses desastres terá um preço. Será sumamente alto. Acredito que no futuro, não muito distante, faltará a madeira necessária para sepultarem as vitimas.

Não quero ser dramático nem pessimista. Estou apenas tentando traduzir o que eu sentir e registrando minha indignação para que talvez amanhã, ao folhear qualquer periódico, eu encontre anúncios de solidariedade e consternação pela perda lastimável.  


Um comentário:

  1. a mídia só noticia desgraça, embora o que vc falou tenha sido, mas seria por outro viés, por uma causa nobre.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...