segunda-feira, 4 de abril de 2011

Conto#2: O Dom Machado


Numa noite dessas, passeando pela cidade, resolvi entrar numa livraria. Entrei sem compromisso. Apenas para comer as horas com mais proveito enquanto esperava a hora do ônibus coletivo.
O local é frequentado por estudantes e amantes da literatura. Encontrei velhos amigos. Abracei alguns conhecidos. Estava em casa. O ambiente é ideal para quem anseia conhecimento, cultura e sabedoria. Eu, particularmente, vou além desta máxima procurando ver de mais perto outros aspectos da natureza humana: A vaidade.
Sou fascinado pelo mundo das letras. Gosto de observar quem possui o mesmo desejo. Fico analisando cada gesto, a maneira como manuseia cada volume, os comentários a respeito de autores e assuntos. Este momento é único.
Cada leitor manifesta um pouco de sua personalidade através da obra que escolhe para ler. Ou, pelo menos, seus interesses são revelados quando compra este em vez daquele titulo. São criaturas especiais os que amam os livros.
O livro tem o poder de elevar a alma, civilizar o pensamento, aprimorar atitudes e consolidar idéias. Em tudo a leitura pode ser um motivo para o deleite. A capa, o estilo do escritor, o cheiro e a cor do papel, o tema abordado, o desenrolar do enredo, o número de paginas...

Há outros, porém, em que o prazer consiste que o outro saiba que ele já leu aquela obra daquele autor especial. E por fim, deixar-se perambular pela avenida das vaidades com um livro nas mãos pode representar o ápice de uma trajetória social.
O sujeito precisa sinalizar que possui interesses literários genuínos de forma que esta característica lhe assegure que é verdadeiramente um “intelectual”.  E para indivíduos mais convincentes, faz-se necessário o uso de um par de óculos.
Que espetáculo!Com certeza o velho Brás iria se agradar destes exemplares. Quase pude ouvir sua risada desdenhosa quando observei um cliente comprando certa coleção para enfeitar sua sala de estar. Que sujeito encantador! Cumprimentei-lhe pelo feito. Sua casa, seus amigos e sua reputação mereciam tamanho investimento.
Fiquei emocionado escutando um rapaz recitar as primeiras orações de uma obra clássica para sua namoradinha. Após esta cena, percebi que a hora avançava. Precisei deixar o recinto. Despedi-me de todos. Tomei o cabriolé.
Não comprei nada. Partir devendo somente o ingresso.

Um comentário:

  1. VOCÊ PARECEU REALMENTE UM CASMURRO ANDANDO PELA RUA DOS MATACAVALOS DEPOIS DE SAIR DA LIVRARIA.

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